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sexta-feira, 29 de julho de 2016

"Um bilhete só de ida, por favor..."por Kemi Oshiro

Texto: Kemi Oshiro
Gênero: conto

Tem uma música que ressoa, para mim, muito mais do que seus simples acordes. Ela diz: “reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer e te dedico uma linda história confessa”. ...isso é muito mais uma história confessa do que propriamente um conto de ficção (ainda que nem tivesse dado tempo do cabelo crescer tanto). Dedico esse conto para um tal 'Ar Djay' que fez eu me perder naquilo que eu inventei.

Um bilhete só de ida, por favor...

Já na noite anterior foi difícil dormir. Seus pensamentos estavam agitados e quem conseguiria descansar sabendo que na tarde seguinte ela estaria vivendo um sonho? Acordou no primeiro toque do despertador e suas coisas estavam estrategicamente dispostas para que pudesse se arrumar e sair de casa o quanto antes. No carro, as sinaleiras pareciam querer atrasá-la para que demorasse mais pra chegar ao aeroporto. Mas lá estava ela.
“Bom dia, sejam todos muito bem-vindos a bordo do voo RJ 226. Nossa previsão é de uma hora e 25 minutos. São Paulo tem tempo claro e com temperatura de 25 graus”.
Nada mal, pensou ela que estava saindo dos congelantes 7 graus, os primeiros daquele inverno frio e com muito vento. Ela sentou à janela, olhou pra fora e viu aquela infinita camada branca de nuvens que lhe fazia sentir tão à vontade. Em vão, tirou um livro da bolsa e antes que pudesse começar a folheá-lo o rapaz sentado a seu lado puxou uma sequencia de assuntos chatos, que ela não conseguira colocar um fim. Ao desembarcar, recebeu um desejo de sucesso do rapaz chato e ela, com pena, desejou o mesmo pra ele. Estava quase na hora. Então, ela pegou o metro e contou as 8 estações que a separavam do sonho. Um minuto e meio, era o tempo que os vagões levavam de uma estação a outra. E pelos 720 segundos que se seguiram ela contou.
Uma ruazinha, estreita e de paralelepípedo, que parecia não ter saída e ficava logo ao lado da estação era o ponto de encontro. Foram bem mais do que 720 segundos de espera. Um grupo de universitários fazia um lanche num boteco logo a frente. Desses regados a cerveja para que a aula se torne menos massante. Alguns a encaravam e outros poderiam estar curiosos para saber qual o motivo da espera que a deixava com um semblante leve e ao mesmo tempo apreensivo.
Ela ajeitara a jaqueta de couro marrom infinitas vezes. Escondeu os punhos do blusão verde e puxou numa respiração a barriga para que não ficasse saliente na cintura da calça jeans. Ele chegou em um carro popular escuro. Abriu uma fresta da janela e com a mão sinalizou para ela. Eles não se viam há mais de um mês. 
O cabelo dele estava maior e seu cavanhaque também. Ela conseguiu perceber enquanto se beijavam. Os pêlos do cavanhaque roçavam no rosto dela e a pele ficara vermelha, levemente irritada. Depois de bem mais de 720 segundos de beijo... ele quis saber como tinha sido a viagem e se ela estava com fome. Foram pro apartamento dele e, conforme ele mesmo se gabara: “organizei tudo para que se precisarmos sair vai ser só pra passear e se você quiser. De resto, tenho comida, limpei a casa e baixei uns filmes”. De tudo, ela lembrava do formato dos dedos dos pés dele. Eram longos, fortes e bonitos. Algumas atitudes e uns brincos perdidos pelos cantos da sala, ela esperava não lembrar. Por mais sorrisos que ela sentisse vontade de esboçar, alguma coisa a fazia pensar que tudo (simplesmente a imensidão daquele sentimento que tomava conta dela) não passaria de uma noite (ou de um fim de semana bem aproveitado).
Como dizia Fernando Pessoa: “a felicidade exige valentia”. E ela foi a mulher mais valente naquela manhã de sexta-feira, mas mais corajosa foi o de seguir seu ímpeto e decidir nunca mais voltar quando embarcou no avião na segunda de manhã. Ela já sabia: seu bilhete era só ida.

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